sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Negro, japonês, magro ou paraplégico, interpretar o Papai Noel é uma emoção para todos eles. “O maior prazer é ver a alegria das crianças”, diz Marco Antônio Rocha.


Em um país de diversidade racial como o Brasil, o Papai Noel também é interpretado por pessoas que não são parecidas com São Nicolau. O despachante fiscal Marco Antônio Rocha, de 55 anos, veste a roupa do bom velhinho há oito anos para trabalhar em um banco na Avenida Paulista, no Centro. Negro, ele usa uma barba grisalha para compor o personagem.
“As crianças perguntam por que a barba não é branca e respondo que sou o mais novo”, diz, rindo. Ele conta que as crianças adoram tirar fotos com o Papai Noel negro, justamente porque é novidade. “É o que chama mais atenção da criançada”, afirma.
Mas estar fora do padrão não é fácil. “Os papais noéis diferentes passam por dificuldade para se enquadrar no mercado dos shoppings. Hoje, até aqueles com barba artificial são rejeitados pelo mercado. O público espera o Papai Noel tradicional. E ele é branco”, diz Sílvio Ribeiro, dono de um curso de papais noéis em São Paulo.
As crianças, porém, também se encantam pelo diferente. Deyves Hadward Júnior, de 32 anos, ficou paraplégico aos 27 anos e se veste como o bom velhinho pelo primeiro ano. Hadward conta que os pequenos adoram tirar fotos com ele por causa do tamanho. “Olha, eu também sou pequenininho”, diz para as crianças mais tímidas.
O surfista – sim, ele ainda pega onda – conta a satisfação que tem ao trabalhar com crianças. “No primeiro dia, fui chorando embora. O abraço delas fala tudo”, afirma. Para o surfista, elas não têm preconceito em relação à figura do velhinho. “Não importa, desde que seja Papai Noel”, afirma.
Ser magro não é visto como problema no mercado de papais noéis. O funcionário público Fernando de Jesus Ribeiro, de 60 anos, trabalha como Papai Noel há três anos e já animou crianças no Terminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. Com 1,62m e 70 kg, ele está fora dos padrões exigidos para compor o personagem. A solução? “Coloco enchimento. Meu rosto não é tão magro, então dá para disfarçar”, conta.
Já o professor de artes Daniel Bocchi, de 29 anos, assumiu sua magreza e se tornou um dos papais noéis mais esguios de São Paulo. “Eu não coloco enchimento porque Papai Noel muito gordo não passa pela chaminé”, brinca. Com 1,92m e 92 kg, o cinto do professor precisou de um furo extra para fechar na cintura.
Ele defende que as pessoas precisam deixar de imaginar que o bom velhinho tem uma imagem padrão. “Papai Noel não é o gordinho de olho azul e barbinha branca. Eu amo isso aqui. O meu sonho era ser Papai Noel”, conta.
O ator Roberto Komazawa, de 57 anos, é o Papai Noel oriental da turma que anima o público no banco da Avenida Paulista. “Para criança, qualquer um é Papai Noel. Se estiver de vermelho com uma barba branca, é Papai Noel”, diz. Ele trabalha como o bom velhinho há oito anos e conta que nunca sofreu preconceito por causa de seus olhos puxados. “As crianças se divertem porque é uma coisa diferente”, afirma.
Negro, japonês, magro ou paraplégico, interpretar o Papai Noel é uma emoção para todos eles. “O maior prazer é ver a alegria das crianças”, diz Marco Antônio Rocha.