domingo, 18 de novembro de 2012

PROFESSOR ARY DE REZENDE- 28/10/2012


NOTA DE FALECIMENTO – PROFESSOR ARY DE REZENDE
Na manhã deste domingo, 28 de outubro de 2012, faleceu em São Paulo no Instituto do Coração – Incor, aos 72 anos, o Professor Ary de Rezende.
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Ex-diretor da E.E. Professor Antônio Alves Cruz, para a qual contribuiu como educador até o fim de seus dias, atual presidente da Associação Fênix para o Desenvolvimento da Educação e Cultura e conselheiro do Museu Afro Brasil, Ary dedicou sua vida para o desenvolvimento de uma educação pública justa, construída por toda a comunidade escolar.
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O velório será no cemitério do Araçá das 20h  às 00h.
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Breve histórico
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Ary de Rezende nasceu em 1940 na cidade de Piquete no Vale do Paraíba, mas passou quase toda sua infância e parte da juventude em Lorena, interior de São Paulo. Terceiro filho de cinco irmãos teve inda criança seu destino traçado: por conta de um problema em uma das pernas não poderia realizar trabalhos pesados. Foi então condenado à educação.
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Cursou as séries iniciais em uma escola rural, o ginásio e parte do ensino médio em Lorena, aos 14 anos dava aulas para os amigos de escola. Em 1960, já na capital paulista, foi admitido pela escola de aplicação da Universidade de São Paulo – USP, onde cursou o terceiro ano do ensino médio. Também na USP fez graduação em Biologia. Em 1965 foi convidado para dar aulas de biologia na Escola Estadual Professor Antônio Alves Cruz, ainda no prédio anexo à escola Godofredo Furtado.
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No mesmo período casou-se com Dona Imaculada, companheira de toda a vida com quem teve dois filhos: Adriana e Marco Aurélio.
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Em 1966 tornou-se diretor assistente e em 1967 assumiu a direção da Alves Cruz.
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Era um homem negro num país racista; diretor de uma escola pública durante uma ditadura militar.
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No mesmo ano a escola foi transferida para o que seria sua sede oficial, um prédio na Rua Capote Valente. No entanto, apenas dois anos depois, em 1969, a prefeitura anunciou a construção da Av. Sumaré e solicitou a demolição do prédio.
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“… Eu fui falar com o Faria Lima, ele disse que poderia me dar uma nova escola, mas que não tinha o terreno…”
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Nos anos que se seguiram, apoiado por alunos e pais de alunos, enfrentou o governo municipal e só permitiu a desapropriação do prédio com o compromisso de construção de uma nova sede para a escola.
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 “… eu procurei Seu Dávio, um pai de aluno que era tesoureiro da APM e trabalhava no INSS, eu sabia que o INSS tinha muitos terrenos. Nossa solicitação foi prontamente atendida, recebemos uma lista e eu fui direto naquele terreno.”
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 O novo prédio ficou pronto em 90 dias, em novembro de 1971.
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“… Era uma barroca coberta por mato, não tinha sequer uma árvore… não tem uma só árvore ali que eu não tenha plantado, disso eu me orgulho!”
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Ary dirigiu a escola até 1976 quando foi convidado para integrar uma comissão da secretaria de educação, após 11 anos passou a direção da escola para a Professora Maria Ivone.
No mesmo ano deixou a carreira pública atendendo a um convite para coordenar a operação de uma empresa brasileira na África. Trabalhou na Nigéria e na Líbia por cerca de quatro anos.
Nos anos seguintes, de volta ao Brasil, trabalhou na iniciativa privada e posteriormente no departamento de merenda escolar da prefeitura de São Paulo.
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Em 2000 foi convidado por seus ex-alunos da Alves Cruz para participar de uma festa em homenagem aos ex-professores e recebeu a notícia de que novamente a escola estava ameaçada de fechamento.
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“Teve aquele jantar na Vila Madalena e os alunos estavam preocupados porque a escola estava para fechar, ai eu disse: De novo!”
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De 2000 a 2012, em parceria com seus ex-alunos Ary integrou e dirigiu o Projeto Fênix, iniciativa que contribuiu para que a Alves Cruz não fechasse as portas, retomando de forma vigorosa sua qualidade como instituição educacional, com participação da sociedade civil e de toda a comunidade escolar, como nos tempos em que dirigia a escola. Nos últimos anos de sua vida também foi conselheiro do Museu Afro Brasil.
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Ary de Rezende foi um homem honrado, que encheu de orgulho e alegria todos que o cercaram. Homem de muitos feitos deixou para o Brasil e para a educação brasileira uma escola erguida sob a convicção de que a educação de nossos filhos deve ser partilhada e construída por todos nós.
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Para os que o conheceram deixou um sorriso gigantesco, de esperança, luta e profunda alegria, que ficará impresso para sempre em nossas lembranças.
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Ary, obrigado por tudo, e sorte em sua nova jornada.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Notícias STF Imprimir Quinta-feira, 26 de abril de 2012 Ministro Joaquim Barbosa afirma que ações afirmativas concretizam princípio constitucional da igualdade


O ministro Joaquim Barbosa acompanhou o voto do relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186, ministro Ricardo Lewandowski, e afirmou que sua manifestação foi tão convincente e abrangente que praticamente esgotou o tema. “O voto de Vossa Excelência está em sintonia com o que há de mais moderno na literatura sobre o tema”, afirmou.
Autor de vários artigos doutrinários sobre a questão, o ministro Joaquim Barbosa reproduziu parte de um texto que escreveu há mais de 10 anos intitulado “O debate constitucional sobre as ações afirmativas” e fez declarações pontuais para demonstrar o que pensa ser essencial em matéria de discriminação.
“Acho que a discriminação, como componente indissociável do relacionamento entre os seres humanos, reveste-se de uma roupagem competitiva. O que está em jogo aqui é, em certa medida, competição: é o espectro competitivo que germina em todas as sociedades. Quanto mais intensa a discriminação e mais poderosos os mecanismos inerciais que impedem o seu combate, mais ampla se mostra a clivagem entre o discriminador e o discriminado”, afirmou.
Para o ministro, daí resulta, inevitavelmente, que aos esforços de uns em prol da concretização da igualdade se contraponham os interesses de outros na manutenção do status quo. “É natural, portanto, que as ações afirmativas – mecanismo jurídico concebido com vistas a quebrar essa dinâmica perversa –, sofram o influxo dessas forças contrapostas e atraiam considerável resistência, sobretudo, é claro, da parte daqueles que historicamente se beneficiam ou se beneficiaram da discriminação de que são vítimas os grupos minoritários”, enfatizou.
O ministro Joaquim Barbosa definiu as ações afirmativas como políticas públicas voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos perversos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física. “A igualdade deixa de ser simplesmente um princípio jurídico a ser respeitado por todos, e passa a ser um objetivo constitucional a ser alcançado pelo Estado e pela sociedade”, ressaltou.
O ministro lembrou que as ações afirmativas não são ações típicas de governos, podendo ser adotadas pela iniciativa privada e até pelo Poder Judiciário, em casos extremos. “Há, no Direito Comparado, vários casos de medidas de ações afirmativas desenhadas pelo Poder Judiciário em casos em que a discriminação é tão flagrante e a exclusão é tão absoluta, que o Judiciário não teve outra alternativa senão, ele próprio, determinar e desenhar medidas de ação afirmativa, como ocorreu, por exemplo, nos Estados Unidos, especialmente em alguns estados do sul”, afirmou o ministro.
Ele ressaltou também que nenhuma nação obtém o respeito no plano internacional enquanto mantém, no plano interno, grupos populacionais discriminados. “Não se deve perder de vista o fato de que a história universal não registra, na era contemporânea, nenhum exemplo de Nação que tenha se erguido de uma condição periférica à condição de potência econômica e política, digna de respeito na cena política internacional, mantendo, no plano doméstico, uma política de exclusão, aberta ou dissimulada – pouco importa! Legal ou meramente estrutural ou histórica, pouco importa! –, em relação a uma parcela expressiva da sua população”, asseverou.
VP/AD