sábado, 15 de maio de 2010

Classe Média Negra!!! Leia, você vai adorar!!!!

Claudio Rossi
A Biashara Escola de Idiomas,
de São Paulo: 
professores e
alunos negros










O crescimento da classe média negra fez surgir um novo filão no mercado. Há quatro anos, a empresária Vilma Warner montou em São Paulo a Biashara Escola de Idiomas, voltada para alunos negros. "Aceitamos alunos brancos, mas 90% são negros", diz Vilma. Além de inglês, espanhol, francês, português para estrangeiros, oferece cursos de línguas africanas como swahili e ioruba. A agência de casamentos Twins Souls, também de São Paulo, é outra que se especializou. De seu cadastro com mais de 350 pessoas, a esmagadora maioria é de negros. "Atendemos um público selecionadíssimo", garante a proprietária, Maria Regina Carvalho. Para fazer parte do cadastro o interessado tem de desembolsar 750 reais. Em oito meses, a agência já viabilizou 32 namoros. No cadastro, há setenta estrangeiros brancos à procura de brasileiras negras.

Claudio Rossi
Turma de solteiros reunidos
pela 
agência de casamento
Twins Souls: 
90% de clientela
formada por negros


Os negros ganham a metade
 Outra novidade vem da indústria da beleza. Durante anos, as mulheres de pele negra tiveram de se submeter a um papel desagradável: usar produtos e cosméticos feitos para mulheres de tez escandinava. De um tempo para cá, surgiram produtos da chamada linha étnica (veja quadro). Esse mercado em expansão continua com um potencial tremendo. Para ficar em dois exemplos, na pesquisa sobre oferta de itens de consumo para a raça, 36% ainda reclamavam a falta de sabonetes e 16% de cremes para corpo e rosto.
O problema racial no Brasil está longe de ser resolvido. Estima-se que os negros ocupem apenas 1% dos postos estratégicos do mercado de trabalho, quando representam quase metade da população. Outro estudo do Ipea mostra que, entre dois profissionais igualmente preparados, o branco tem 30% mais chance de conseguir uma ocupação do que o negro. Há duas razões para a diferença porcentual, aponta o estudo: o preconceito e o histórico familiar. O branco candidato ao emprego em geral vem de uma família estabilizada socialmente e o negro deu o grande salto. Para quem já está no mercado, a situação não é diferente. Na hora de receber o contracheque, negros e brancos estão em descompasso. De acordo com dados da Fundação Seade, de São Paulo, o salário médio de um branco na capital paulista é de 760 reais. Na mesma função, um negro ganha menos da metade: cerca de 350 reais. "O negro tem de ser dez vezes melhor do que o branco para ter acesso a uma educação que permita a ele competir e ultrapassar quem sempre esteve em vantagem", diz o cientista político Sérgio Abranches.
As estatísticas sobre o espaço social e econômico dos negros na sociedade brasileira devem ser encaradas com cuidado. A maioria dos estudos oficiais ignora a cor da pele dos cidadãos, o que dificulta as análises. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística pede às pessoas que digam, elas próprias, qual é o tom de sua pele. As respostas são inacreditáveis. Tem-se um espectro de cores que vai desde um impreciso "café-com-leite" até um incompreensível "pardo bebê". Em 1995, o Instituto Datafolha perguntou a um grupo de pessoas qual a cor de sua pele. Surgiram mais de 100 respostas diferentes. Há uma razão técnica para que a cor não seja definida pelo pesquisador. Como não existe um conceito biológico e catalogável de raças, a mudança no critério poderia ser  e tudo indica que seria  tão subjetiva quanto o atual sistema, dando espaço até mesmo para o preconceito do pesquisador. "Mas é necessário fazê-la, pois muitas vezes aponta para outras características, como escolaridade e renda", afirma o demógrafo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE.
A deficiência estatística para contabilizar a etnia esconde o tamanho do preconceito. O Conselho Federal de Medicina, por exemplo, orgulha-se de não saber quantos são os médicos negros. A Ordem dos Advogados do Brasil também não tem idéia do rol de negros em seus quadros. Nem o Sindicato dos Professores de São Paulo nem tampouco o Conselho Federal dos Engenheiros têm essa informação. O argumento é que a raça não importa no desempenho da profissão. Até aí, perfeito. Mas como não se sabe exatamente quantos são os negros, pardos, morenos, mulatos, e afins e nem onde eles estão, ninguém fica sabendo também como eles estão se saindo no mercado de trabalho. Nos anos 40, o sociólogo Oracy Nogueira decifrou a charada: no Brasil, o preconceito é de cor da pele, enquanto para os americanos é de origem. Portanto, o sujeito que se diz "café-com-leite" no Brasil pode até ser considerado "quase branco". Já nos Estados Unidos, ele é negro porque invariavelmente tem ascendência negra.
Essa clara definição da raça fez dos Estados Unidos um espelho de organização sócio-econômica para os negros brasileiros. Sem dúvida, é ali que se encontra o maior mercado segmentado para negros do planeta. De roupas e cosméticos a canais de TV, há de tudo para o público negro. Uma conquista duríssima que levou anos para se firmar. As chamadas "políticas afirmativas", o sistema de cotas nas universidades e na administração pública, fizeram com que a classe média negra americana dobrasse nos últimos vinte anos. No entanto, o resultado foi diferente do esperado. A sociedade dividiu-se e a disputa racial adquiriu alguns aspectos inéditos. Sob a pecha de ser paternalistas e injustas, argumentos usados pelos brancos, as cotas dão motivo a embates intermináveis. Um branco sempre pode alegar ter perdido um bom emprego não porque o negro com quem disputou a vaga era mais capacitado, mas porque a lei o favoreceu.
"Morte à princesa Isabel"  Os estudiosos do sistema de cotas se dividem. Há defensores ferrenhos, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil (veja quadro). Outros vêem a adoção do sistema com preocupação. A sociedade americana vive um clima de disputa racial num ambiente em que as leis garantem vagas em número proporcional ao contingente de negros no total da população: 12%. O que aconteceria se o modelo fosse importado para o Brasil, onde negros e pardos somam 45% da população? De acordo com o professor Anthony Marx, da Universidade Columbia, que lançou recentemente um livro sobre o assunto, Construindo uma Raça e uma Nação  Uma Comparação entre Estados Unidos, África do Sul e Brasil, ainda inédito no país, o sistema não iria funcionar. Ele afirma que a segregação racial no Brasil não é explícita simplesmente porque não há como identificar raças pela aparência física. Não há um negro negro nem um branco branco. Por essa razão, reservar cotas para uma raça específica e definida é quase uma utopia. Ainda assim, chovem propostas de reserva de mercado para negros. Há algumas semanas, o Tribunal de Justiça de São Paulo aprovou uma medida que obriga a participação de 25% de atores e modelos negros em todas as propagandas oficiais do governo estadual.
Claudio Pinheiro
O plástico Pereira:
mais de 800 clientes,
na maioria mulheres
brancas,
como Vera Ramos

Até agora, tem sido confortável para os brancos festejar o sucesso dos negros já estabilizados na profissão. Mas uma coisa é aplaudir quando o número de negros bem-sucedidos é pequeno. Outra é continuar o aplauso no momento em que um contingente expressivo de negros bem preparados começar a tomar postos de trabalho de altos salários da fatia mais clara da população. A gerente financeira da Mitsubishi, Conceição Vianna, de 45 anos, sabe do que se trata. Logo que se formou, foi disputar uma vaga de contadora com um colega, homem e branco. Ficou com o emprego, mas guarda na memória um comentário que preferiria ter esquecido. "Quando ele soube do resultado, virou-se para mim e disse que, se pudesse, entraria numa máquina do tempo e mataria a princesa Isabel", lembra Conceição. É nessa hora que o preconceito aflora em sua medida extrema. "Aqui se diz que o discriminado é o pobre. Mentira. Nos pequenos detalhes, vemos que quem é mesmo discriminado é o negro", afirma Sueli Carneiro, do Geledés 
 Instituto da Mulher Negra, de São Paulo. 

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