Hip Hop fala contra o racismo e a desigualdade social
Não é nada fácil entender o Hip Hop, que veio da periferia nova iorquina para o Brasil no final da década de 1980, via indústria fonográfica. É um movimento com várias tendências internas, mas que pauta-se pela denúncia da exclusão social e pela discussão de questões relativas à história e à identidade dos negros. Formado por três elementos - o rap (música), o break (dança) e o grafite (desenho) - ao chegar no Brasil ele foi influenciado pela cultura local e adquiriu novos traços e novas formas de manifestação. Em parte, por causa da influência cultural local, o Hip Hop brasileiro diferencia-se do norte-americano. "O brasileiro é muito melhor do que o americano, que foi banalizado. Muitos representantes do Hip Hop lá fora se venderam para o sistema. Eles não querem ver o bem do povo deles, eles querem que o seu povo se mate para conseguir um Nike, um carro... No Brasil, o Hip Hop é mais consciente, quer ver o povo melhorar, prega a informação", afirma Cibele Cristiane Rodrigues, militante do movimento.
Não é à toa que o Hip Hop tem ganhado cada vez mais militantes e mais espaço no Brasil. Segundo Viviane Melo de Mendonça Magro, psicóloga que estuda o movimento no Brasil, com ênfase na questão de gênero, sua popularidade se deve ao fato de ser um movimento enraizado nas experiências de jovens e pessoas que vivem na periferia, além de ser muito organizado. "As histórias do rap são histórias fictícias ou reais de pessoas que vivem na periferia, baseadas na vivência na periferia. Para elas, o Hip Hop é uma forma de resistência e mudança da realidade", conta Viviane Magro. No Hip Hop brasileiro, exclusão social e preconceito racial são evidenciados Foi isso o que aconteceu em uma visita do famoso rapper Mano Brown, do Racionais MC, em junho de 2003, na Febem do Brás, em São Paulo, mostrando a força do Hip Hop como movimento de emancipação social. Os detentos sabiam todas as letras e se identificaram com as músicas do rapper. A militante Rodriguez reforça a idéia de busca por igualdade. "Tentamos nem tocar nesse negócio de negritude, branquitude, essa fita toda, porque o Hip Hop quer atingir uma classe social, é para os desfavorecidos". Entretanto, Cibele salienta que o movimento busca através das várias formas de expressão evidenciar o histórico dos negros no Brasil. "É importante que todos entendam que os negros são excluídos porque foram escravizados". Hip Hop brasileiro é diferente do norte americano "O break, por exemplo, tem muita semelhança com a capoeira, como já observaram os militantes do Hip Hop norte americano", afirma Magro. Devido à influência cultural brasileira no movimento, só o Hip Hop brasileiro tem rap com um pouco de samba, break parecido com capoeira e grafites de cores nitidamente mais vivas. Segundo a pesquisadora, essa mistura com elementos brasileiros é motivo de orgulho para o Hip Hop brasileiro, que tende a uma valorização crescente dos elementos nacionais em um movimento importado dos EUA.
O samba que influenciou o Hip Hop brasileiro O sambista Bruno Ribeiro, compositor e integrante do Núcleo de Sambistas e Compositores do Cupinzeiro, afirma que o negro é a base do samba brasileiro. "Sem o negro, o samba não existiria. O aparecimento do samba está associado às comunidades negras, sejam na Bahia ou no Rio de Janeiro"
Segundo o sambista, o papel dos negros no samba, atualmente, é muito importante. "É preciso recuperar e preservar sua história dentro do samba, pois a indústria cultural, a partir do momento em que investe na criação de um gênero pop, batizado de "pagode", tira toda a essência que havia no samba para torná-lo palatável a uma classe média consumidora e transformá-lo em mercadoria", adverte. "Creio que o papel do negro, hoje, é estudar o seu passado e defender as suas tradições, negando-se a vender a história de seu povo por promessas de dinheiro e de fama. O papel dos brancos que fazem samba é também lutar em defesa dessa cultura, afinal, somos todos brasileiros e o samba pode ser um grande unificador nacional". Na opinião de Ribeiro, gêneros musicais como o rap e o samba não são incompatíveis "Se você for em qualquer periferia do Brasil vai ver que os caras que gostam de rap costumam fazer roda de samba no boteco da esquina, quando chega o fim de semana. Não dá para falar em samba apenas como produto musical. O samba é, antes de mais nada, o encontro da comunidade, nasce quando um grupo de pessoas se reúne em torno de uma mesa para cantar e tocar, enfim, para partilhar alegria". "Eu me organizando posso desorganizar" Na opinião da rapper Verônica, do grupo Cabelo Duro, apesar da opinião contrária "e preconceituosa" de sua família sobre o Hip Hop, valeu a pena se integrar ao movimento. "Depois que eu comecei a ser militante percebi o quanto minha vida sempre foi fudida, no sentido literal da palavra.. Mas agora, eu sei que posso lutar para melhorar, agora eu sei que eu tenho muitos direitos e que devo lutar por eles. Por ter entrado no movimento, eu comecei a ter acesso a muitas informações, que pessoas que eu conheço que não são do movimento nunca tiveram. Eu não me vejo melhor do que minhas amigas que seguiram uma vida mais tradicional, mas eu me vejo com mais oportunidades porque tenho mais informação" . Já dizia Chico Science, também influenciado pelo Hip Hop pernambucano: "eu me organizando posso desorganizar". O Hip Hop se organiza cada vez mais e os seus militantes têm razão quando definem o movimento como uma arma.
(JS) | |||
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Atualizado em 10/11/2003 | |||
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sábado, 1 de maio de 2010
"Hip Hop" Contribuição Negra
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