sábado, 15 de maio de 2010

Sala de aula!!! Amigos professores vamos mudar essa realidade?!


O preconceito na sala de aula

Ricardo Fasanello
Racismo na escola: pesquisa mostra abusos das próprias professoras

Durante oito meses, a professora Eliane Cavalleiro investigou o preconceito racial na rede pública de ensino. Passou suas manhãs em uma pré-escola municipal, de um bairro classe média de São Paulo, observando o relacionamento dos professores e crianças brancas com os alunos negros. Eliane anotou frases, presenciou diálogos e entrevistou famílias. As conclusões desse trabalho fazem parte de sua tese de mestrado "Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil" e são um soco no estômago. Aprovado com louvor pela banca de docentes da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, o trabalho revela que as professoras tratam com enorme diferença os alunos negros. Segundo o texto, elas são mais impacientes com eles, menos carinhosas e, em casos extremos testemunhados pela pesquisadora, chegam a humilhar as crianças negras com expressões impensáveis, ainda mais para quem é responsável por educar. "Filhotes de São Benedito", "negrinho safado", "cão em forma de gente" foram algumas das expressões usadas pelas professoras da escola em sua presença.

De acordo com as observações de Eliane, a postura adotada pelas educadoras também anula eventuais manifestações de carinho por parte dos alunos negros. Ela constatou que, muitas vezes, partiam das próprias professoras a galhofa e o deboche sobre a cor da pele dos estudantes. Um dos exemplos é inacreditável. Durante a aula de artes, uma menina negra de 7 anos disse que gostaria de se parecer com a apresentadora Angélica. "Desde aquele dia, quando queria falar com a garota, a professora dizia: 'Ô Angélica, olha pra cá', e, ao constatar que a menina atendia ao chamado, caía na gargalhada", conta Eliane. "A professora não se acanhava com a minha presença, mesmo sabendo o teor da pesquisa", diz.
Numa observação minuciosa, a pesquisadora chegou a contabilizar a troca de afagos entre as professoras e os alunos: em um dia normal, as educadoras beijam três vezes mais crianças brancas do que negras. O mais curioso é que a própria Eliane foi discriminada enquanto reunia dados para sua tese. Quando chegou à escola, deixou bem clara sua intenção de não participar de qualquer atividade. Ela ficaria apenas observando o que acontecia em sala de aula. No entanto, a maioria das professoras brancas mandava Eliane, negra, servir lanche, fazer cartazes e até limpar o chão depois da bagunça de algum aluno. "A situação é assustadora. Nem mesmo eu imaginava quanto os professores ainda são despreparados para lidar com a diversidade étnica na sala de aula e na sociedade", afirma a pesquisadora.

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