segunda-feira, 28 de junho de 2010

"Benedita da Silva entrevista concedida à revista RAÇA BRASIL”.

















Benedita da Silva




“A primeira vez que estive com Benedita da Silva foi no lançamento de um de meus livros Manual de Sobrevivência do Negro no Brasil no início dos anos 90, no Rio de Janeiro”, recorda Maurício Pestana, presidente do conselho editorial de RAÇA BRASIL, minutos antes de iniciar esta entrevista. Passaram mais de uma década e neste período a ascensão política de Bené (como carinhosamente é chamada) atingiu níveis jamais conquistados por um negro no Brasil: foi vereadora, deputada, senadora, ministra e governadora. “Sua trajetória tem servido de inspiração e também de críticas, mas, seja qual for a opinião, uma coisa é certa: Benedita da Silva tem lugar seguro na história política do Brasil. Como você poderá comprovar nesta entrevista concedida à RAÇA BRASIL”.



A SENHORA OCUPOU PRATICAMENTE TODAS AS ESFERAS DE PODER EM SEU ESTADO. FOI VEREADORA, DEPUTADA, SENADORA E GOVERNADORA, COMO É LIDAR COM O PODER SENDO NEGRA, EM UM PAÍS QUE O PODER É MAJORITARIAMENTE MASCULINO E BRANCO?

Isto é uma conquista. Certamente minha militância tem demonstrado os resultados que tenho até então para fazer com que o negro ocupe um espaço, e de destaque, isso não signifi ca dizer que acabou o racismo, o negro está chegando, porque estamos lutando e batalhando. Na medida em que você tem consciência da existência da desigualdade social com marcas profundas na desigualdade racial e queira levar isso como bandeira na política, temos que trabalhar muito, não é fácil, então tenho como grande desafi o em todos os espaços que ocupo poder estar na condição de mulher negra num país visivelmente preconceituoso. Mas é importante dizer o quanto é sofrido para quem levantar essa bandeira no convívio e na disputa do poder.



PARA SENHORA, UMA PESSOA DE ORIGEM HUMILDE, COMO A MAIOR PARTE DA POPULAÇÃO NEGRA E EXCLUÍDA DESTE PAÍS QUAL O MAIOR OBSTÁCULO QUE O NEGRO ENFRENTA PARA CONQUISTAR A ASCENSÃO E O PODER POLÍTICO? Primeiro o descrédito. Culturalmente nós negros temos que trabalhar e conviver com o descrédito, vamos ouvir o tempo todo “isto não vai dar certo, isto não vai levar a lugar algum”, temos que enfrentar o fato da nossa imagem não estar associada historicamente à inteligência, que o espaço a ser ocupado não é o nosso, enfrentar as rasteiras, aquelas coisas que você sabe...



Ficam evidentes o preconceito, a disputa, você observa que seu adversário está incomodado com sua imagem, com sua inteligência.



NA CONDIÇÃO DE SECRETARIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL E DOS DIREITOS HUMANOS, COMO TEM SIDO TRABALHAR EM UM GOVERNO QUE VEM SENDO ACUSADO DE ENDURECER E DE ATÉ USAR DE UMA CERTA TRUCULÊNCIA NAS COMUNIDADES ONDE VIVEM A MAIORIA DA POPULAÇÃO NEGRA DO RIO DE JANEIRO?

O governo do estado do Rio de Janeiro pela primeira vez em muitos anos tem uma aliança muito forte com o governo federal, que está investindo seus equipamentos, no saneamento básico dentro do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC).



Hoje, o resultado que nós temos é este abandono mas, o governo do estado do Rio de Janeiro está entrando nas comunidades para dar segurança e oportunidades.


EXISTEM SETORES DO MOVIMENTO NEGRO (PRINCIPALMENTE NO RIO DE JANEIRO) QUE A ACUSAM DE NÃO TER UMA MAIOR PARTICIPAÇÃO JUNTO À QUESTÃO RACIAL. COMO A SENHORA VÊ ISSO?

Dizer que a minha história não faz parte do sucesso da nossa luta é não ter o mínimo de visão, ou melhor, é ter uma visão restrita, minha primeira aliança não foi a partir da cor da pele, porque a cor da pele pelo contrario, em algum tempo eu a rejeitei, porque ela signifi cava o horrível, o feio, o ruim, o analfabeto, o ignorante, o que morava em piores condições e passava fome, então eu poderia negar isso, sempre tive instrumentos para negá-lo. Graças a Deus, tive a oportunidade de ter militância em diferentes movimentos, e sou uma pessoa completa porque sou do movimento das mulheres, sou do movimento negro, sou do movimento do favelado. Então quem tem esta trajetória, quem tem este acúmulo, tem uma visão muito mais abrangente porque eu não conheço só os negros que conseguiram chegar às universidades, nem apenas os negros que conseguiram chegar às instituições do movimento negro, eu conheci aqueles negros que não serviram de inspiração para livros, mas que eram minha própria história, minha própria vida.



COMO FOI SUA VIDA À FRENTE DE UM MINISTÉRIO DO GOVERNO LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA?

Tenho orgulho de ter passado pelo do qual recebi do Presidente Lula, um ministério com verba, com poder e não uma salinha... Construímos um grande trabalho que frutifi cou e que tem sido um dos grandes instrumentos para as políticas sociais do governo, que é o Ministério da Assistência Social, hoje, Desenvolvimento Social de Combate à Fome. Tenho orgulho de minha passagem pelo governo.




Nenhum comentário:

Postar um comentário